terça-feira, 9 de julho de 2013

Um inimigo virtual


Países como China e Coréia do Norte são internacionalmente conhecidos por seus governos que impõem, arbitrariamente, rigorosas censuras àinternet. Na China, por exemplo, assuntos como a independência do Tibete, corrupção e sexualidade são proibidos de serem veiculados, não apenas nainternet, mas em todos os meios de comunicação. A desobediência à censura pode resultar em medidas drásticas, como a não publicação de notícias ou a prisão de jornalistas. Na Coréia do Norte a coisa é ainda mais radical: o acesso à internet é autorizado somente a membros da elite do governo; fora isso, estrangeiros podem conseguir conexão em hotéis de luxo e lan houseespecíficas. Nesses países, todo tipo de informação é controlada pelo governo, que somente faz circular aquilo que lhe convém.
Na Europa, em países ditos desenvolvidos, acreditamos que a mentalidade seja outra. Que a liberdade de expressão seja plena e assegurada. Será mesmo?
Em matéria publicada no site italiano de notícias, L’Espresso, figuras da política italiana  declararam a web  ser um inimigo. Eles pretendem criar “leis especiais” para tornar a internet um lugar mais politicamente correto, sem mensagens ásperas e, se possível, sem qualquer tipo de ameaça. Laura Boldrini – jornalista e política, presidente da Câmara dos Deputados – disse, em trecho: “Se a web é a vida real, e é, se produz efeitos reais, e os produz, não podemos considerar menos relevante o que acontece na rede, considerando o que ocorre por aí. A política deve ser corajosa, deve agir”. E o que o povo precisa ser então?
“Muitos, dentro da classe política, não perderam a oportunidade de rebater os conceitos: a rede é um faroeste sem regras e a culpa é do anonimato”.
Para clarear mais o ponto de vistas deles, seguem mais dois trechos: “Se não começa uma batalha política contra os idiotas, os babacas, os fanáticos que escrevem na rede e agitam os ânimos, iremos ao encontro de sérios riscos” (Fabrizio Cicchitto, político); “Qualquer medida serve para impedir o festival de ódio sem controle ou sanções” (Maurizio Gasparri, político). Esses discursos não compartilhariam dos mesmos ideais de censura dos regimes totalitários asiáticos? Os políticos italianos querem reagir contra crimes gerados na web com censura. Mas seria esse o caminho? Eles acreditam que o anonimato, nas redes sociais, possibilita a propagação de ofensas. E a que interesses essas mensagens de autoria anônima em circulação seriam ofensivas? Isso os políticos italianos não transparecem.
Se, na Europa, modelo de avançado desenvolvimento econômico, tecnológico e social, essas ideias circulam, o que poderíamos dizer do Brasil? Será que nossos políticos têm tais pensamentos? A internetpossibilita às pessoas denunciarem, com amplitude, as sujeiras da política, a organizarem manifestações contra os abusos e os corruptos do governo. É isso o que eles temem, e querem censurar.
Trazendo para nós, você consegue imaginar o dia em que apenas teremos conteúdos disponibilizados pelo governo?

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Entre as estrelas e os power trios, a gente

No rock n’ roll, os power trios (bandas de apenas três integrantes) são conhecidos por serem heroicos. Os canadenses do Rush - Geddy Lee no baixo, teclado e vocais; Alex Lifeson na guitarra e o baterista Neil Peart (ele gosta de ler muito, por isso muitas composições são suas) – são conhecidos por suas refinadas monstruosas habilidades instrumentais e suas composições complexas; é difícil acreditar que suas canções sejam tocadas por somente três caras. Escute “Tom Sawyer”, uma das mais famosas do trio, e entenderão. Por aqui, uma banda, apesar de ter passado por diversas formações, sendo até um quinteto, é mais conhecida por ser um trio, são os Engenheiros do Hawaii. A clássica formação contava com Humberto Gessinger no baixo, Augusto Licks na guitarra e Carlos Maltz na bateria. Essa formação lançou discos icônicos como A Revolta dos Dândis (1987) e O Papa é Pop (1990). Segundo próprias palavras de Gessinger, em entrevista ao programa Zoombido, de Paulinho Moska, a limitação técnica dos integrantes da banda era um barato. Concordo. Os caras derrubaram possíveis barreiras impostas, evoluíram com discos temáticos e influências do rock progressivo. Isso é tão impressionante quanto os experimentalismos de Geddy Lee e companhia.


Entre o virtuosismo do Rush e a limitação técnica (aparente) dos Engenheiros do Hawaii, está o fato deles comporem músicas incríveis com “tão pouco” – alcançaram o sucesso e se tornaram referências em seus respectivos meios.

Em certos momentos, não podemos esperar as condições ideais aparecerem para podermos fazer um projeto com o qual sonhamos (escrever um livro, viajar ou até mesmo formar uma banda). Ás vezes, temos de ser como um power trio; se virar fazendo com o mínimo, de gente (apoio) e equipamento (oportunidades), vagando entre as fronteiras do improvável e do audacioso. Não tem quem segure o baixo? Vai em frente, e assuma-o. As críticas e pressões o colocam pra baixo? Tente continuar com o que está fazendo, e quebre paradigmas. Se não for assim, nada acontecerá, e nem será.



Entre um ponto e outro, rola muita coisa. Muitas pessoas totalmente absortas em chegar até lá, se esquecem de aproveitar o trajeto.

Sempre acreditei que música e poesia têm muito a conversar. Para fechar, deixo um poema, de Mario Quintana, que é lindíssimo e adoro. Abraços, e até a próxima!


Das Utopias


Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas! 



Nota: texto, de minha autoria, publicado também em http://showcarioca.com.br/index.php/entre-estrelas-e-os-power-trio/