Sala de
estar. Me acomodo no sofá e ligo a televisão. Entre um canal e outro, eis que
decido conferir a nova formação de apresentadoras de um programa de debates
sobre os mais variados temas. Um dos tópicos abordados me chamou bastante a
atenção: a maneira como nós somos pressionados a apresentar sempre novos rumos
(mudar de empresa) ou projetos (elaborar um novo texto).
Seduzido
por elas, acompanhei atentamente o decorrer do programa. A conversa entre as apresentadoras era
conduzida de uma forma bem informal e descontraída, mas muito inteligente.
Retomando
o assunto, a minha impressão é que estamos tresloucados. Quando não imposto
pelos outros, nos forçamos a estar sempre planejando e produzindo. Acredito que
esse comportamento esteja estreitamente ligado a uma das máximas de nossa
sociedade ocidental capitalista, “tempo é dinheiro”; ou seja, se não queremos
perder dinheiro, não podemos perder tempo. Assim, passar uma tarde descansando
no sofá seria um desperdício total de tempo?
A partir
da Primeira Revolução Industrial (século XVIII), o relógio se tornou um
instrumento importantíssimo. Que horas começa a reunião? Que horas chega a
entrega? Quantas horas de trabalho serão empregadas? Ter uma noção precisa do
tempo é imprescindível para uma sociedade capitalista, ela pode determinar –sem
qualquer exagero – o fracasso ou o sucesso, imagine se você perde a hora de uma
entrevista ou se os chefes executivos de uma marca não acompanham as rápidas mudanças
tecnológicas. Repare que (quase) todos os eletrônicos informam as horas, por
exemplo, televisão, computador, tablet,
etc.
Pois é, caro
leitor, ficar alheio às passagens das horas pode causar estranheza ou
desaprovação, é prejudicial à saúde. Quem nunca ouviu “você é um preguiçoso”, ou
aquela finíssima ironia “que vida boa hein”? Aproveitar um momento sozinho ou
mesmo ficar à toa, não são, portanto,
atitudes compatíveis com a nossa cultura do capital. Assim, uma pessoa
que tira um descanso é como uma fábrica que não produz e gera prejuízos. Veja
quantas pessoas que ficam aflitas durante as férias.
Entretanto,
mesmo quando trabalhamos, somos constantemente pressionados a fazer uma nova
realização. Por exemplo, se uma pessoa está há 10 anos na mesma empresa ou,
pior, no mesmo posto, vão dizer: “ela está acomodada”, “fulano não tem
objetivos na vida”; e por aí vai. Até
num relacionamento, se um casal está há muitos anos juntos, para alguns, é
cafona, careta; outros vão incentivar algum tipo de repaginada.
Comecei a
escrever esse texto depois de duas ou três semanas após o tal programa ter sido
exibido. Fiquei uns dias matutando as opiniões das belas apresentadoras.
Acredito que fiz tudo no tempo ideal. Aliás, penso que não adianta se
desesperar, nem fazer as coisas às pressas; antes, procuro, cada vez mais,
fazer as tarefas no meu tempo. O mais difícil, talvez, seja não confundir isso
com preguiça.
Um
chocolate requer alguns minutos de atenção para ser verdadeiramente apreciado.
Vamos achocolatar a vida. Feliz Páscoa!