Em Passaparola, na seção de cultura do jornal
italiano La Reppublica, a jornalista Silvana Mazzocchi entrevista a escritora
Nunzia Penelope que lançara seu livro “Richi e Poveri” (Ricos e Pobres). A obra
é uma análise das desigualdades sociais e suas consequências agravadas pela
crise econômica na Itália. Abaixo segue tradução de parte da matéria.
Para dar substância e peso àquilo que todos vemos
com nossos olhos, acaba de chegar nas livrarias o novo livro de Nunzia
Penelope, Richi e Poveri. Uma pesquisa sobre a desigualdade que tem a força dos
números e a potência de uma fotografia impiedosa da realidade. Na Itália,
adverte o destaque da capa, “il 10% degli italiani possiede metà della
ricchezza nazionale il 90% si divide quello che resta” – 10% dos italianos
possuem metade da riqueza nacional e 90% divide o que resta. O livro faz uma
radiografia da Itália desigual, “un paese ricco, ma abitato da poveri” – um país
rico, mas habitado por pobres. Um país prejudicado por um corte exagerado, onde
quem dispõe de 10.000 euros por dia (são 2.5 milhões de famílias ricas na
Itália)e quem deve sobreviver com menos de 1000 euros por mês. E onde ainda
sexismo e racismo prosperam. Onde uma mulher, de acordo com as horas de trabalho,
ganha uma média de 1131 euros por mês contra os 1407 de um homem e um
estrangeiro 973; enquanto uma mulher estrangeira leva para casa somente 746.
Com um gap que cresce ainda mais para os jovens, quase sempre com risco futuro.
Para quem quiser ler a matéria na íntegra, clique aqui.
Nos noticiários, vemos os correspondentes na
Itália em belíssimas cidades onde vemos pessoas bem vestidas, carros conversíveis
e monumentos históricos magníficos (quem não queria ter um trabalho desse tipo?), mas ao
contrário do esplendor paisagístico, as notícias não agradam. O cenário
econômico-político social na Itália está péssimo. Escândalos de corrupção,
dívida e possibilidade de saída da zona do euro, são exemplos do que está
acontecendo por lá. Enquanto isso, a população italiana sofre com medidas de austeridades e altos índices de
desemprego, os jovens veem o seu futuro em risco, assim, muitos italianos –incluindo
estrangeiros- vão ás ruas protestarem contra os diversos cortes anunciados pelo
governo .
O leitor deve estar pensando: ok, não falo
italiano e não entendo nada de Itália. Adoro a culinária e a música italiana,
mas citei a bota por outro motivo. Por aqui, o governo anestesia a população
passando a ilusória sensação do bem-estar e desenvolvimento (níveis de educação precários), as camadas populares são manipuladas (Bolsa Família) de modo a não criticarem as ações das autoridades. A crise não é exclusividade da Itália, nem da Europa; ela é global. Por que seria diferente conosco? A
presidente Dilma Rousseff declara veemente que o país segue firme frente à
crise, enquanto as taxas anuais de crescimento caem e as universidades federais
e estaduais urgem por reformas e investimentos.
Estar por dentro do que acontece em outros países,
pode nos ajudar a compreender o que se passa realmente por aqui e, talvez, a
ver além das máscaras.