sábado, 23 de março de 2013

A crise italiana pode nos ajudar


Em Passaparola, na seção de cultura do jornal italiano La Reppublica, a jornalista Silvana Mazzocchi entrevista a escritora Nunzia Penelope que lançara seu livro “Richi e Poveri” (Ricos e Pobres). A obra é uma análise das desigualdades sociais e suas consequências agravadas pela crise econômica na Itália. Abaixo segue tradução de parte da matéria.

Para dar substância e peso àquilo que todos vemos com nossos olhos, acaba de chegar nas livrarias o novo livro de Nunzia Penelope, Richi e Poveri. Uma pesquisa sobre a desigualdade que tem a força dos números e a potência de uma fotografia impiedosa da realidade. Na Itália, adverte o destaque da capa, “il 10% degli italiani possiede metà della ricchezza nazionale il 90% si divide quello che resta” – 10% dos italianos possuem metade da riqueza nacional e 90% divide o que resta. O livro faz uma radiografia da Itália desigual, “un paese ricco, ma abitato da poveri” – um país rico, mas habitado por pobres. Um país prejudicado por um corte exagerado, onde quem dispõe de 10.000 euros por dia (são 2.5 milhões de famílias ricas na Itália)e quem deve sobreviver com menos de 1000 euros por mês. E onde ainda sexismo e racismo prosperam. Onde uma mulher, de acordo com as horas de trabalho, ganha uma média de 1131 euros por mês contra os 1407 de um homem e um estrangeiro 973; enquanto uma mulher estrangeira leva para casa somente 746. Com um gap que cresce ainda mais para os jovens, quase sempre com risco futuro.

Para quem quiser ler a matéria na íntegra, clique aqui.

Nos noticiários, vemos os correspondentes na Itália em belíssimas cidades onde vemos pessoas bem vestidas, carros conversíveis e monumentos históricos magníficos (quem não queria ter um trabalho desse tipo?), mas ao contrário do esplendor paisagístico, as notícias não agradam. O cenário econômico-político social na Itália está péssimo. Escândalos de corrupção, dívida e possibilidade de saída da zona do euro, são exemplos do que está acontecendo por lá. Enquanto isso, a população italiana sofre com  medidas de austeridades e altos índices de desemprego, os jovens veem o seu futuro em risco, assim, muitos italianos –incluindo estrangeiros- vão ás ruas protestarem contra os diversos cortes anunciados pelo governo .

O leitor deve estar pensando: ok, não falo italiano e não entendo nada de Itália. Adoro a culinária e a música italiana, mas citei a bota por outro motivo. Por aqui, o governo anestesia a população passando a ilusória sensação do bem-estar e desenvolvimento (níveis de educação precários), as camadas populares são manipuladas (Bolsa Família) de modo a não criticarem as ações das autoridades. A crise não é exclusividade da Itália, nem da Europa; ela é global. Por que seria diferente conosco? A presidente Dilma Rousseff declara veemente que o país segue firme frente à crise, enquanto as taxas anuais de crescimento caem e as universidades federais e estaduais urgem por reformas e investimentos.

Estar por dentro do que acontece em outros países, pode nos ajudar a compreender o que se passa realmente por aqui e, talvez, a ver além das máscaras.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Nota da gaveta 1

Índios são atacados por serem inocentes. O governo, alheio à opinião pública, protege interesses elitistas. Símbolos da cultura nacional são marginalizados. Em meio ao caos, os veículos de comunicação nos fazem ver o que Renato Russo cantava: "Mas nos deram espelho, vimos um mundo doente".

quinta-feira, 21 de março de 2013

Entre românticos e realistas no rock


“Não fazem músicas como antes...” “Eles se venderam...”. Volta e meia vejo e ouço comentários como esses em blogs, no YouTube (lá tem muitos) ou em descontraídas conversas entre amigos. Uns são saudosistas declarados, outros tentam ser cult. Parece que artistas e bandas desaprenderam a fazer música, e tudo que é lançado não presta. Acredito que em diversos gêneros musicais isso possa ser percebido, mas, em particular, no rock os fãs se dividem entre aqueles que querem o retorno dos bons tempos e os que

O leitor deve estar pensando que vou defender um lado e trazer todo tipo de argumento para tal. Talvez isso aconteça, afinal, nossos corpos estão em movimento.

Em meio às ondas sonoras distorcidas, tento entender se as coisas estão mesmo como dizem por aí. Que papo de ondas é esse? Nesse mundo frenético, poucos estão dispostos a escutar um álbum inteiro, quanto menos buscar compreender qualquer coisa. Busco no produto das novas ideias os motivos da insatisfação dos fãs.

Há um tempinho, eu tenho escutado algumas bandas de longa data que ainda estão na ativa e que tem lançado material nos últimos anos. Por exemplo, o Guns N’ Roses, muitos fãs sonham em ver o retorno da formação original. Mas será que isso resgataria a toda magia da banda? Seria bom para os integrantes? Slash está construindo uma carreira solo de sucesso, os outros membros seguem bem também; Axl, apesar das reclamações de longos atrasos, tem feito vários shows ao redor do mundo. Ao que tudo indica, todos seguem rumo a novos horizontes. Decidi, portanto, prestar atenção no Chinese Democracy (2008); achei que não mudaria de ideia, mas me impressionei. É um disco interessante, mas para os antigos fãs apreciarem a obra, é preciso, antes de tudo, deixar de lado qualquer sentimento nostálgico, e abrir a cabeça para uma nova proposta.
Outro caso é o Silverchair, uma das bandas mais criticadas por suas mudanças, a sua sonoridade foi sendo reformulada paralelamente ao crescimento e amadurecimento da banda e dos integrantes, - do grunge cru ao experimentalismo com músicas longas, de evoluções e orquestradas. O que eu havia dito sobre o último trabalho do Guns, se aplica também com a Diorama e Young Modern.  
Para mim, essas mudanças podem ser boas e produtivas, por mais que sejam difíceis de serem aceitas (e como são!). Tantas outras bandas também são exemplos disso, Metallica (o que dizer sobre St. Anger?), Bon Jovi, Beatles, etc.

Apesar dos sentimentos românticos instalados, procuro conferir o que está surgindo e acontecendo por ai; um trem, levando ideias libertas, daqui a pouco partirá. Se o universo está em expansão, por que as bandas não estariam?

21 /03/2013